Abel Teixeira / Cicinho / Cícera Fonseca da Silva / Cícero Francisco / J. Borges / Artur Pereira / Getúlio Damado / Noemisa Batista dos Santos / Ulisses Pereira Chaves / Silvana Lopes / Marcelo Conceição / Zé Bezerra
A arte popular, segundo Eduardo Galeano, é um complexo sistema de símbolos de identidade que o povo cria e preserva. Ela é trabalhada, acrescida e modificada pelo cotidiano, por sonhos, manifestações culturais, desejos, insatisfações.
Além de carregar um sentimento de coletividade, funciona como uma espécie de memória escrita das crenças e costumes brasileiros.
Historicamente, em 1920, a arte popular virou alvo de pesquisa dos modernistas para a construção de seus processos criativos. Foi nas décadas seguintes que, graças a pesquisadores e entusiastas do tema, os trabalhos começaram a ganhar espaço no circuito artístico nacional. Em 1969, a arquiteta Lina Bo Bardi realiza a histórica mostra A Mão do Povo Brasileiro, no MASP, exibindo uma vasta quantidade de trabalhos produzidos pelo povo. Foi necessário despir-se da obsessão por modelos estrangeiros, sobretudo europeus, tidos como essenciais para construção e suas referências artísticas.
A partir de então, com o trabalho de pensadores como Clarival do Prado Valadares e Darcy Ribeiro, especialistas do ramo como Lélia Coelho Frota, Janete Costa, Jacques Van de Beuque e Paulo Pardal, museólogos, marchands e galeristas, a arte popular ganhou força e hoje recebe atenção nacional e internacional pela relevância criativa do povo brasileiro, tida como uma das mais ricas, variadas e de denso conteúdo.
MESTRES
Alguns agentes são reconhecidos como Mestres ao estabelecerem um vínculo profundo com a cultura popular, criarem uma produção considerada original, dominarem a técnica e as etapas de produção, transmitirem o conhecimento para seguidores através do fornecimento de ferramentas intelectuais para a criação das obras, mediarem passado e presente. São exemplos disso Vitalino, em Pernambuco, Dona Izabel, no Vale do Jequitinhonha, e Seu Fernando, na Ilha do Ferro.
Alguns agentes são reconhecidos como Mestres ao estabelecerem um vínculo profundo com a cultura popular, criarem uma produção considerada original, dominarem a técnica e as etapas de produção, transmitirem o conhecimento para seguidores através do fornecimento de ferramentas intelectuais para a criação das obras, mediarem passado e presente. São exemplos disso Vitalino, em Pernambuco, Dona Izabel, no Vale do Jequitinhonha, e Seu Fernando, na Ilha do Ferro.
Aprender sobre a cultura e arte popular, estabelecer relações saudáveis e respeitosas, criar espaço e proporcionar visibilidade é colaborar para a desocultação do valor autoral da produção popular, incentivando a perpetuação dos agentes e possibilitando importantes avanços sociais acerca da representatividade.
Com o crescente e, de certa forma, descontrolado interesse pela produção celebrada como popular por colecionadores, turistas, lojistas e galeristas, as relações de mercado podem assumir um caráter prejudicial. Como apontado por Jacques Van de Beuque, podem ocorrer interferências nos processos de criação condicionadas aos gostos dos consumidores de maneira selvagem e predatória, impondo padrões, modelos e materiais, minando o potencial de criatividade. Vale mencionar as constantes tentativas de representação da obra desses artistas pelas galerias, que esbarram em inúmeros desencontros: demandas, prazos e objetivos que não coincidem com as vontades, desejos e tempo de produção dos artistas.
Reconhecer a relevância desta produção artística e estimular a sua inclusão no processo de educação é contribuir para a formação de uma sociedade atenta à sua própria cultura e consciente da preservação dos agentes que gestam a riqueza popular brasileira.